quarta-feira, 7 de maio de 2014

ECO, Umberto. Como Se Faz Uma Tese. Trad. Gilson Cesar de Souza. 24ª edição. São Paulo: Perspectiva, 2012. (resenha)
João Paulo F. Tinoco Machado
Mestrando em Letras/Estudos Linguísticos – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul /UFMS

            Ingressar em Cursos de Graduação e Pós-graduação lato sensu e stricto sensu, os quais tomam uma pesquisa como requisito avaliativo, requer disposição e comprometimento por parte do discente. Ao longo do curso o alunado expõe-se às práticas de leitura e escrita, as quais devem dar apoio às formações básicas e necessárias de que futuramente precisará. Não obstante, a escrita científica pode tornar um obstáculo para a conclusão do curso, uma vez que a maioria das instituições solicita um trabalho final – artigo, monografia, dissertação ou tese – em uma área específica do conhecimento produzido pelo aluno supervisionado por um professor experiente.
A fim de compartilhar considerações importantes e esclarecer o que trata-se de uma tese e como elaborá-la, Umberto Eco relata em seu livro “Como Se Faz Uma Tese”, em sua 24ª edição, experiências eficazes para direcionar um candidato que está em uma situação de dificuldade em delimitar um tema de pesquisa.
            O escritor italiano é conhecido por seus escritos sobre semiótica, comunicação de massa, filosofia e linguística. Com várias publicações, Eco escreve “Como Se Faz Uma Tese” com o objetivo de corroborar de forma didática aspectos relevantes para um leitor, tanto aluno quanto quem deseja saber sobre o assunto, que propõe-se dedicar algumas horas diárias à leituras com a finalidade de prepara-lo para uma pesquisa séria, a qual possa contribuir com seu crescimento intelectual e em sua carreira.
            A obra do crítico é divida em sete capítulos formando um total de cento e setenta e quatro páginas. Por toda extensão da obra, o autor direciona o leitor para os cuidados e seriedade ao colocar-se na posição de pesquisador. Eco destaca dois tipos de tese: pesquisa e compilação. Esta o aluno coloca como foco de pesquisa grande parte da produção existente, ou seja, as publicações, a respeito de um determinado assunto, aquela exige mais tempo e profundidade para o pesquisador.
            O livro foi pensado naqueles alunos que têm a possibilidade de dedicar poucas horas por dia nos estudos, contudo permitindo-lhes tempo necessário para finalizar a tese. Teve-se o cuidado de pensar em um aluno que não tem à sua disposição alguns recursos favoráveis, como dinheiro e tempo integral, para sua pesquisa. Destarte, o autor da obra apresenta passos para pensar sobre um tema; reunir documentação; colocar em ordem estes documentos; e refletir sobre os mesmos.
            A contribuição desta obra é encorajar e mostrar que é possível fazer uma pesquisa em seis meses que venha trazer contribuições significativas, evitando cópias de outras pesquisas. De forma irônica o escritor torna explícita sua preocupação com o plágio ao dizer que se o aluno não é capaz de escrever um trabalho inédito, melhor que ele o copie. Disseminando, também, com a inquietação que temos tido e acautelado nossos alunos para posicionarem-se com integridade e não cometerem tal crime.
            Sumariando os passos, pode-se dizer que o tema da tese, monográfica ou panorâmica, deve ser escolhido conforme a facilidade que está ao alcance do candidato, ou seja, assuntos atuais e ricos em referências bibliográficas na biblioteca de fácil acesso. Para ter acesso ao material, o autor lembra que fontes podem ser colhidas na biblioteca ao pesquisar catálogos bibliográficos transcrevendo os autores de interesse em fichários, tais como, ficha bibliográfica, ficha de leitura, citação dos livros em notas de rodapé, consequentemente, apoderando-se de uma bibliografia final[1].  Dessa forma, o aluno poderá delimitar-se para escrever sua tese consoante os requisitos esperados de um leitor: que o autor seja comedido e objetivo esclarecendo dúvidas aparentemente ambíguas. Os conhecimentos agregados neste livro servirão ao aprendiz pelo resto de sua vida.
            É assim, que as contribuições dadas por Umberto Eco permitem que alunos e interessados adquiram e construam caminhos para avistar um “horizonte”. Em especial, a combinação de um professor que faça com que o candidato se sinta desafiado e que ajude a traçar a pesquisa mutuamente com o aprendiz, far-se-á com que a tese torne-se uma experiência satisfatória que não será esquecida.



[1] Atualmente usamos “referências” por se tratar de documentos impressos ou registrados em diversos tipos de suporte, e não somente livros. 

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Análise do Discurso: Princípios e Procedimentos.

João Paulo F. Tinoco Machado

Mestrando em Letras/Estudos Linguísticos – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul /UFMS

ORLANDI, Eni Pulcinelli. Análise do Discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 2009.

A sugestão para inserir a Análise de Discurso (doravante AD) nas matrizes curriculares de Ensino Superior tem sido recorrente. A contribuição que esta vertente alcança faz com que pesquisadores e professores produzam artigos e livros a fim de propor um acréscimo a mais acerca dos estudos linguísticos. Entre os estudiosos brasileiros, como Coracini (1996), Brait (2008), Machado (2008), Mendes (2008) dentre outros, eu gostaria de abordar os escritos de Orlandi a respeito da AD em sua obra nomeada Análise de Discurso – Princípios e Procedimentos. Eni Pulcinelli Orlandi é uma pesquisadora formada em Letras com mestrado e doutorado em Linguística. Sua produção teórica é vasta, publicou e organizou mais de 35 livros, os quais enfatizam temas que fomentam estudos sobre a linguagem. Orlandi é apontada como precursora da Análise de Discurso de orientação francesa aqui no Brasil, e seus estudos são de fundamental importância quando abordamos os princípios e procedimentos da AD.
Sobre o nascimento da AD quero pontuar que os estudos tiveram início por Michel Pêcheux (1975) na década de 60 ao basear-se no estruturalismo linguístico e levantar questionamentos sobre a Linguística a respeito de língua, historicidade e sujeito. Estes estudos têm sido tema nas universidades, congressos e de livros para levar à baila análises, reflexões e questionamentos sobre o funcionamento das práticas discursivas.
Por meio dos estudos de Pêcheux novas discussões puderam ser geradas e novos pesquisadores analíticos se formaram (E. Orlandi, 1996). O livro Análise de Discurso – Princípios e Procedimentos de Eni Orlandi (2009) foi pensado para introduzir fundamentos necessários e importantes para a construção de conhecimentos sobre a linguagem e seus efeitos de sentido ao analisar o discurso.  Através de seus cursos ministrados, a professora Orlandi recebeu incentivos de alunos e editores para publicar um livro que abordaria tópicos introdutórios e pertinentes à AD com o propósito de facilitar a compreensão de iniciantes.    
A obra por ora resenhada foi publicada no ano de 2009, na sua 8ª edição, pela editora Pontes e contém 97 páginas dividindo-se em três capítulos, sendo eles: I. O Discurso, II. Sujeito, História, Linguagem e III. Dispositivo de Análise, com seus respectivos subtítulos analisando o percurso que cada item direciona. As questões que a autora pontua vão ao encontro das dúvidas que um leitor iniciante possui, ao fazer com que a leitura flua suprindo as lacunas que ao longo do texto podem surgir.
A proposta da obra é aproximar o aprendiz do funcionamento da linguagem e suas astúcias ao produzir sentidos por e para os sujeitos. No capítulo I “O Discurso”, Orlandi percorre os caminhos de estudos sobre a linguagem (século XIX), por exemplo, os estudos de textos e suas específicas análises, valorizando as pesquisas de M. Bréal, Z. Harris e M.A.K Halliday, as quais foram importantes para dar origem à AD. Esta vertente compreende a linguagem como um sistema de comunicação capaz de transmitir sentidos por meio da língua, sentidos que são estruturados ao longo da história afetando o homem simbolicamente. Alguns conceitos, a partir dos estudos da Linguística, Marxismo e Psicologia, são formados para sustentar a AD ao dizer que: é por meio da língua que o sujeito, afetado pela história, se significa; a história carrega fatos significativos que são afetados pelo simbólico; ao ser afetado pela língua e história o sujeito discursivo move-se pelo inconsciente e pela ideologia. A partir dessas considerações entende-se que a linguagem faz sentido porque está inscrita na história a qual o homem, ao nascer, perpetua e constrói mudanças. As palavras já possuem sentido quando são produzidas pelo indivíduo, assim é necessário um apagamento na memória para que o que está sendo dito passe por um “anonimato” e faça sentido nas palavras de quem está dizendo ao mesmo tempo em que está sendo afetado pela ideologia, “fala uma voz sem nome” (Courtine, 1984 apud Eni Orlandi, 2009, p. 34).
Atenciosamente, no capítulo II “Sujeito, História, Linguagem” Eni P. Orlandi conduz o leitor a compreender que a linguagem não é tão transparente como pensamos, ou seja, há um processo de significação constituído por e nos sujeitos ao transmitirem informações. O indivíduo deve ser entendido como (re)produtor inconsciente do que já foi dito, pois as palavras carregam significados pré-existentes, e ao ser interpelado em sujeito pela ideologia forma-se um apagamento necessário para produção de efeito de sentidos e dar a este sujeito a impressão de ser a origem do que diz.
O livro é de suma importância para pessoas que têm contato maior com a língua(gem) ao considerar as bases que lhes podem ser dadas, a respeito dos jogos de articulação do simbólico com o político que não inocentam a linguagem, no entanto problematizam as maneiras de ler consoante aos processos parafrásticos e polissémicos.  
E logo no final da obra, capítulo III “Dispositivo de Análise”, Orlandi destaca alguns pontos para que o analista de discurso compreenda, interprete e descreva como um objeto simbólico produz sentidos.
            Orlandi consegue explanar os conceitos relevantes à AD exemplificando com acontecimentos do dia a dia, desse modo considero esta obra tanto teórica quanto didática. O vai e vem, com retomadas do que foi dito, dá apoio ao leitor para assegurar-lhe entendimento e segurança.

O que cabe salientar, também, é que a AD faz interface com outras correntes e disciplinas abordando diferentes gêneros e domínios. Então perguntamos: quais são estas especificidades? A resposta está nas leituras de novas obras.