quarta-feira, 23 de abril de 2014

Análise do Discurso: Princípios e Procedimentos.

João Paulo F. Tinoco Machado

Mestrando em Letras/Estudos Linguísticos – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul /UFMS

ORLANDI, Eni Pulcinelli. Análise do Discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 2009.

A sugestão para inserir a Análise de Discurso (doravante AD) nas matrizes curriculares de Ensino Superior tem sido recorrente. A contribuição que esta vertente alcança faz com que pesquisadores e professores produzam artigos e livros a fim de propor um acréscimo a mais acerca dos estudos linguísticos. Entre os estudiosos brasileiros, como Coracini (1996), Brait (2008), Machado (2008), Mendes (2008) dentre outros, eu gostaria de abordar os escritos de Orlandi a respeito da AD em sua obra nomeada Análise de Discurso – Princípios e Procedimentos. Eni Pulcinelli Orlandi é uma pesquisadora formada em Letras com mestrado e doutorado em Linguística. Sua produção teórica é vasta, publicou e organizou mais de 35 livros, os quais enfatizam temas que fomentam estudos sobre a linguagem. Orlandi é apontada como precursora da Análise de Discurso de orientação francesa aqui no Brasil, e seus estudos são de fundamental importância quando abordamos os princípios e procedimentos da AD.
Sobre o nascimento da AD quero pontuar que os estudos tiveram início por Michel Pêcheux (1975) na década de 60 ao basear-se no estruturalismo linguístico e levantar questionamentos sobre a Linguística a respeito de língua, historicidade e sujeito. Estes estudos têm sido tema nas universidades, congressos e de livros para levar à baila análises, reflexões e questionamentos sobre o funcionamento das práticas discursivas.
Por meio dos estudos de Pêcheux novas discussões puderam ser geradas e novos pesquisadores analíticos se formaram (E. Orlandi, 1996). O livro Análise de Discurso – Princípios e Procedimentos de Eni Orlandi (2009) foi pensado para introduzir fundamentos necessários e importantes para a construção de conhecimentos sobre a linguagem e seus efeitos de sentido ao analisar o discurso.  Através de seus cursos ministrados, a professora Orlandi recebeu incentivos de alunos e editores para publicar um livro que abordaria tópicos introdutórios e pertinentes à AD com o propósito de facilitar a compreensão de iniciantes.    
A obra por ora resenhada foi publicada no ano de 2009, na sua 8ª edição, pela editora Pontes e contém 97 páginas dividindo-se em três capítulos, sendo eles: I. O Discurso, II. Sujeito, História, Linguagem e III. Dispositivo de Análise, com seus respectivos subtítulos analisando o percurso que cada item direciona. As questões que a autora pontua vão ao encontro das dúvidas que um leitor iniciante possui, ao fazer com que a leitura flua suprindo as lacunas que ao longo do texto podem surgir.
A proposta da obra é aproximar o aprendiz do funcionamento da linguagem e suas astúcias ao produzir sentidos por e para os sujeitos. No capítulo I “O Discurso”, Orlandi percorre os caminhos de estudos sobre a linguagem (século XIX), por exemplo, os estudos de textos e suas específicas análises, valorizando as pesquisas de M. Bréal, Z. Harris e M.A.K Halliday, as quais foram importantes para dar origem à AD. Esta vertente compreende a linguagem como um sistema de comunicação capaz de transmitir sentidos por meio da língua, sentidos que são estruturados ao longo da história afetando o homem simbolicamente. Alguns conceitos, a partir dos estudos da Linguística, Marxismo e Psicologia, são formados para sustentar a AD ao dizer que: é por meio da língua que o sujeito, afetado pela história, se significa; a história carrega fatos significativos que são afetados pelo simbólico; ao ser afetado pela língua e história o sujeito discursivo move-se pelo inconsciente e pela ideologia. A partir dessas considerações entende-se que a linguagem faz sentido porque está inscrita na história a qual o homem, ao nascer, perpetua e constrói mudanças. As palavras já possuem sentido quando são produzidas pelo indivíduo, assim é necessário um apagamento na memória para que o que está sendo dito passe por um “anonimato” e faça sentido nas palavras de quem está dizendo ao mesmo tempo em que está sendo afetado pela ideologia, “fala uma voz sem nome” (Courtine, 1984 apud Eni Orlandi, 2009, p. 34).
Atenciosamente, no capítulo II “Sujeito, História, Linguagem” Eni P. Orlandi conduz o leitor a compreender que a linguagem não é tão transparente como pensamos, ou seja, há um processo de significação constituído por e nos sujeitos ao transmitirem informações. O indivíduo deve ser entendido como (re)produtor inconsciente do que já foi dito, pois as palavras carregam significados pré-existentes, e ao ser interpelado em sujeito pela ideologia forma-se um apagamento necessário para produção de efeito de sentidos e dar a este sujeito a impressão de ser a origem do que diz.
O livro é de suma importância para pessoas que têm contato maior com a língua(gem) ao considerar as bases que lhes podem ser dadas, a respeito dos jogos de articulação do simbólico com o político que não inocentam a linguagem, no entanto problematizam as maneiras de ler consoante aos processos parafrásticos e polissémicos.  
E logo no final da obra, capítulo III “Dispositivo de Análise”, Orlandi destaca alguns pontos para que o analista de discurso compreenda, interprete e descreva como um objeto simbólico produz sentidos.
            Orlandi consegue explanar os conceitos relevantes à AD exemplificando com acontecimentos do dia a dia, desse modo considero esta obra tanto teórica quanto didática. O vai e vem, com retomadas do que foi dito, dá apoio ao leitor para assegurar-lhe entendimento e segurança.

O que cabe salientar, também, é que a AD faz interface com outras correntes e disciplinas abordando diferentes gêneros e domínios. Então perguntamos: quais são estas especificidades? A resposta está nas leituras de novas obras. 

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